segunda-feira, 23 de julho de 2012

Espantar os males

O adagiário português está cheio de conselhos para espantar os males por meios de cantigas, certamente alegres. Há nos "provérbios" de Mário Lamenza estas três formas: Quem canta, maus fados espanta, Quem chora mais os aumenta e Quem canta, seus males espanta. Mas a forma mais divulgada é a que consta do início desta trova lusitana: Quem chora seu mal aumenta; eu canto p'ra aliviar esta dor que me atormenta. Simões Lopes Neto, nos "Contos Gauchescos", registra esta quadra que diz ser de uma toada dos seus pagos: "Quem canta refresca a alma; cantar adoça o sofrer; quem canta zomba da morte; cantar ajuda a viver!" Isso não impede que outros rifões apresentem restrições: Quem canta antes do almoço, não chega ao sol posto e Quem canta na mesa e dança no leito, é tolo perfeito. Camões, porém, assim versejava: "E o trabalhador cantando, os seus males menos sente."

Nota


Adagiário: coleção de adágios (provérbios).

Rifão: Adágio ou provérbio.


domingo, 22 de julho de 2012

Lamber as botas

Lamber as botas ou limpar as botas de alguém é praticar ato do mais baixo servilismo. A expressão é comum a vários idiomas. Em inglês, bootlicker ou bootlick (palavras da gíria dicionarizadas por Maurice H. Weseen em "A Dictionary of American Slang"). Em francês: Lèche-bottes, usada pelo poeta Jacques Ancelot (1794-1854) nestes versos: "Tous ces gens tatoués de plaques et de croix ont lèche sans rougir la botte de vingt rois" (Toda essa gente carregada de condecorações, lambeu sem ruborizar-se as botas de vinte reis). Em italiano: Leccapiedi (lambe pés), ou leccazampi (lambe patas).

sábado, 21 de julho de 2012

Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura

Provérbio de origem latina enunciado em um verso de Lucrécio, da seguinte forma: Stillicidi casus lapidem cavat (A água que tomba gota a gota fura o rochedo). A mesma coisa afirmou o poeta Ovídio, nestes versos da "Arte de Amar": Quid magis est durum saxo? Quid mollius unda? Dura tamen molli saxa cavantur aqua (Que é mais duro que uma pedra? Que é mais mole que a água? Contudo, a água mole cava a pedra dura).

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Mais vale um pássaro na mão do que dois voando

Ensina esse provérbio que não se deve trocar uma vantagem real, ainda que modesta, por outra que, parecendo duas vezes maior, não é tão segura, ou não passa de simples hipótese. Variante portuguesa do mesmo provérbio: Antes um pardal na mão que uma perdiz a voar. Existe o mesmo provérbio na língua inglesa, com a seguinte forma: A bird in hand is worth two in the bush (Um pássaro na mão vale dois no mato). Há outras formas inglesas: One bird in the hand is worth two on the roof (Um pássaro na mão é melhor que dois no telhado) e A bird in the cage is worth a hundred at large (Um pássaro na gaiola é melhor que um cento à solta). Este último tem perfeita correspondência no italiano. E meglio un ucello in gabbia che cento fuori. Os holandeses têm o mesmo provérbio falando em dez pássaros, em vez de um cento.

domingo, 1 de julho de 2012

Bode expiatório

É alguém que leva a culpa de atos que não cometeu, ou é oficialmente responsabilizado por atitudes que outros tomaram e apenas lhe são atribuídas. É o que os ingleses chamam scapegoat e os franceses de bouc émissaire. O nome representa uma alusão ao bode, símbolo das iniquidades do povo judeu, que, no Dia da Expiação (Yom Kippur), o sumo sacerdote expulsava aos confins do deserto, expiando assim os pecados de Israel. Azazel significa o emissário ou o enviado. Para Alphonse de Lamartine, Luis XVI cumpriu um destino semelhante: pagou as culpas do trono, da aristocracia, do sacerdócio, de La Fayette, dos girondinos e até dos jacobinos. Em suma: C'était I'homme émissaire des temps antiques, inventé pour porter les iniquités de tous (Era o homem emissário dos tempos antigos, inventado para arcar com as iniquidades de todos).

Nota


Girondino ou girondinismo era a denominação de um grupo político moderado, chefiado por Jaques Pierre Brissot (1754-1793) durante a Revolução Francesa. Compreendia junto com os jacobinos (jacobinismo) liderados por Robespiérre e cordeliers (por Danton) o Terceiro Estado, e ocupavam o lado esquerdo da Assembleia, ficando o direito para o clero (Primeiro Estado) e aristocracia (Segundo Estado). Defendiam uma Monarquia Constitucional e se enfraqueceram politicamente com a tentativa de fuga de Luis XVI. A conotação política dos termos Esquerda e Direita provem desta divisão inicial da Assembleia Nacional Francesa.