quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Devagar com o andor

É uma frase feita que significa o mesmo que nada de pressa ou vamos devagar. Nasceu, ao que se diz, das preocupações de um vigário, com o santo de sua igreja, ao sair este em procissão, num  andor levado aos ombros de homens muito apressados. Procurando moderar a marcha dos fieis e não achando melhor argumento, teria o padre gritado: Devagar com o andor, que o santo é de barro! A última parte da sentença ainda está em uso, mas é mais frequente a utilização apenas da primeira parte.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Nem tudo o que reluz é ouro

O sentido deste provérbio é semelhante ao de: As aparências enganam. O ouropel pode ter o brilho e a cor do ouro, mas brilho e cor falsos e sem o mesmo valor. Mário Lamenza registra esta forma: "Nem tudo o que luz é ouro; nem tudo que é feio é mau, quem não tem o que fazer, vá fazer colher de pau". Uma música carnavalesca carioca fez o Brasil inteiro cantar: Nem tudo o que reluz é ouro, nem tudo o que balança cai. É curioso assinalar que o último desses versos repete textualmente uma máxima de Montaigne, que diz: Tout ce qui branle ne tombe pas. Ela se encontra no livro III, capítulo nono, dos famosos "Ensaios", sob o título de "Da Vaidade".

Nota


Ouropel: 1. s.m. Lâmina de latão, fina e polida, que imita o ouro e de longe tem seu brilho. 2. Fig. Aparência enganosa; falso brilho.

sábado, 27 de agosto de 2011

Chover no molhado

Dizer coisa dita, ou redita. Fazer algo desnecessário, que nenhuma vantagem trará. Aconselhar, com insistência, medida já tomada. Em italiano se diz: Piovere sul bagnato. Há locuções aproximadas em outros idiomas. Em inglês: To carry coal to Newcastle (Carregar carvão para Newcastle, que é grande centro exportador desse produto). Em espanhol: Llevar hierro a Biscaya (Levar ferro a Biscaya, que é terra fértil em ferro). Em francês: Porter des feuilles au bois (Carregar folhas para a floresta). Em italiano: Vender il mieli a chi a le api (Vender o mel a quem tem as abelhas). E a própria locução portuguesa: Ensinar padre-nosso a vigário, ou ensinar a rezar a missa.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Dize-me com quem andas, dir-te-ei quem és

Este provérbio mostra que um homem pode ser julgado pelo conjunto de suas relações sociais ou de suas companhias. Variante: Dize-me com quem lidas, dir-te-ei as manhas que tens. Existe na França, nos mesmos termos: Dis-moi qui tu fréquentes, je te dirai qui tu es. Os ingleses têm dois provérbios com o mesmo sentido, embora com palavras diversas: A man is known by his friends (Conhece-se um homem pelos seus amigos) a Birds of a feather flock together (Pássaros da mesma plumagem voam juntos).

domingo, 7 de agosto de 2011

Zero à esquerda

Criatura insignificante, pessoa sem valor próprio, que nada acrescenta a uma instituição ou partido político. A locução se apoia num princípio básico de aritmética, e passou a ser usada devido a um divulgadíssimo conto do Abade Blanchet (escritor francês do século XVIII) intitulado "A Academia dos silenciosos". Nessa sábia instituição, que teria existido em Amadan, prevalecia a regra: "Os acadêmicos, pensarão muito, escreverão pouco e falarão e menos possível." Um dia, o Dr. Zeb, reconhecidamente o maior sábio da Pérsia, resolveu ser um de seus cem membros. Mas quando lá chegou a vaga já havia sido preenchida. Pesaroso, o presidente, querendo significar isso, sem dizer palavra, fez encher uma taça d'água até as bordas, mostrando-a ao candidato      retardatário . Sem desencorajar-se, o Dr. Zeb, encontrando à mão uma pétala de rosa, depositou-a na taça, sem que a água transbordasse. Diante de tão engenhosa resposta, bateram palmas todos os presentes e ele foi, assim, admitido, por aclamação. Como os estatutos tinham sido violados, o novo acadêmico ao tomar posse, escreveu modestamente, sem dizer palavra: "Não valereis mais nem menos." E acrescentou esta cifra: "0100". Com o mesmo laconismo, o presidente escreveu, em resposta: Valeremos onze vezes mais: 1100." Agrippino Grieco é autor de um livro de sátiras literárias intitulado "Zeros à esquerda".

Nota


Lacônico: Breve, conciso; dito ou escrito em poucas palavras.

sábado, 6 de agosto de 2011

O Brasil está à beira de um abismo

Chavão parlamentar e jornalístico, que remonta ao tempo do Império. Tanto dele abusou a oposição que acabou por se desmoralizar. Escrevendo sobre as tendências restauradoras de José Bonifácio que, em 1833, pretendia ver D. Pedro I novamente no trono do Brasil, o historiador Vieira Fazenda assinalou: "Os entusiastas de José Bonifácio dividem-se em dois campos: uns confessam que o ilustre ancião fora manifestamente restaurador; mas não levado por espírito de traição, e sim por julgar o país à beira de um abismo, prestes a desmembrar-se, perder sua grandeza e unidade". O artigo é de 26/04/1904, mas retrata as ideias do tempo de José Bonifácio. Está incorporado às "Antiqualhas e Memórias do Rio de Janeiro". Na comédia "O Diabo no Corpo", representada em 1905, Coelho Neto satirizava a expressão do personagem Libório, candidato a deputado: "Devo dizer-vos, antes de pleitear a minha causa, quais são as ideias do meu programa. Sou dos que pensam que a pátria está à beira dum abismo, dum báratro, dum vórtice. Urge dar-lhe mão forte".

Nota


Chavão: 1. Coisa que se diz ou escreve por costume, clichê.
Báratro: 1. Precipício onde se jogavam os criminosos em Atenas. 2. Abismo.
                   3. Inferno.
Vórtice: 1. Redemoinho que pode surgir numa corrente de água. 2. Furacão.
                   3. Turbilhão.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Alhos e bugalhos

Misturar alhos com bugalhos é tomar uma coisa por outra, fazer confusões. Há também a forma: falo-lhe em alhos, responde-me com bugalhos, consignada em vários adagiários e que significa: Pergunto-lhe uma coisa, responde outra. Há uma outra locução com o mesmo sentido: Confundir germano com gênero humano. João Guimarães Rosa apresenta uma extensão, no conto: "A simples e exata estória do burrinho do comandante": "O Sr. pode às vezes distinguir alhos de bugalhos, e tassalhos de borralhos e vergalhos de chanfalhos, e mangalhos... Mas, e o vice-versa?"

Nota


Borralho: cinzas ainda quente.
Bugalho: fruto redondo do carvalho e outras árvores do tamanho de uma noz. Mais conhecido por causa da expressão "Não confunda alhos com bugalhos", cuja semelhança está no tamanho e na forma da cabeça de alho.
Chanfalho: 1. espada velha e sem corte. 2. instrumento desafinado.
Mangalho: 1. s.m. chul. pênis grande. 2. produto da indústria doméstica e da pequena lavoura que se vende      
                  nos mercados e feiras do interior.
Tassalho: pedaço.
Vergalho: chicote, chibata.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Deus ajuda a quem se ajuda

Esse provérbio é de origem francesa e constitui a adaptação da moralidade de uma das fábulas de La Fontaine, "Le Chartier Embourbe". Aide-toi et le ciel t'aidera (Ajuda-te e o céu te ajudará). Com a forma aqui dicionarizada, serviu de divisa, em 1824, a uma sociedade política destinada a induzir a classe média a resistir ao governo. Essa sociedade, de que Guizot chegou a ser um dos presidentes e que teve os jornais "Le Globe" e "Le National" como seus orgãos, ajudou a promover a revolução de 1830 e foi dissolvida em 1832. Provérbios aproximados: Deus ajuda a quem cedo madruga; Deus ajuda a quem trabalha; Deus é bom trabalhador, mas gosta que o ajudem. (Curiosa é a forma anatonímica deste provérbio em hebraico: im eyn ani li mi li, e seu sentido: se eu não (for) por mim, quem (o será)?)

Nota


Anatonímica: estudo dos antônimos.

François Pierre Guillaume Guizot: Foi um político francês. Ocupou o cargo de primeiro ministro da França, entre 19 de setembro de 1847 a 23 de fevereiro de 1848. Guizot, ministro da Instrução Pública, determinou, em 1834, na Faculdade de Direito de Paris, a instalação da primeira cátedra de Direito Constitucional. Confiou-a a um professor italiano, Pellegrino Rossi, que publicou em seguida um curso de direito constitucional em vários volumes (Paris, 1866).



segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Entrar pelo cano

Ser mal sucedido num empreendimento qualquer, fracassar, fazer fiasco, dar com os burros nágua. O cano, no caso, é o cano do esgoto. Fernando Sabino, na crônica intitulada "Encontro de Preto e Branco" (Manchete, fevereiro de 1961), escreve sobre um indivíduo ameaçado de perder sua posição na empresa de um norte-americano: "Passar fome era muito bonito nos romances de Knut Hamsun, lidos depois do jantar, sem credores à porta, sem conta de pensão a pagar. Ia-se o emprego, a confiança que merecia, a segurança conquistada - entrava de novo pelo cano de mais negra necessidade, isso é que não!" Também se usa popularmente a expressão entrar bem para dizer: dar-se mal.

Nota


Knut Hamsun: nasceu em 1859 em Gudbrandsdalen, na região da Noruega. Seu primeiro livro de ficção, Den Gaadefulde (1877), surgiu sob o nome de Knut Petersen Hamsund - ele tinha 18 anos. Em 1878, Hamsun se mudou para a Christiania (agora Oslo), onde viveu na miséria (seu romance mais conhecido - Fome é ambientado nesta cidade).  Em 1884, depois de encontrar Mark Twain e escrever um artigo sobre ele, um erro de impressão comeu o "d" do final da Hamsund. Hamsun aceitou seu novo nome. Hamsun morreu em Norholm, no dia 19 de fevereiro de 1952.

OBS.: Sua história de vida foi muito interessante. Vale a pena ler um pouco sobre ele.